terça-feira, 7 de julho de 2009

Interdição de dupla candidatura divide PS


Deputados do PS criticam o 'timing' do anúncio de interdição de candidaturas simultâneas às presidências de câmara e à Assembleia da República, situação que abrange mais de uma dezena de parlamentares. PSD aponta "desesperado eleitoralismo" e exige que os socialistas sejam consequentes nos dois casos de dupla candidatura às autarquias e às europeias.
A decisão de José Sócrates de interditar candidaturas simultâneas às câmaras municipais e à Assembleia da República está a dividir os socialistas. Mais de uma dezena de actuais parlamentares são também candidatos autárquicos, ficando agora excluídos de uma recandidatura nas próximas legislativas. A medida - e sobretudo o tempo em que foi anunciada - está longe de agradar a muitos socialistas.
Sónia Sanfona, actual vice-presidente da bancada parlamentar e candidata à câmara de Alpiarça, critica o timing da decisão, defendendo que uma medida desta natureza deveria ter sido tomada no congresso do partido, em Fevereiro. "Para se melhorar a qualidade da democracia tem de se estabelecer sempre, à partida, as regras do jogo antes de se jogar", defende a deputada.
Outro caso é o de Helena Terra, também vice do grupo parlamentar da maioria. A deputada referiu ao DN que tem um "único compromisso político assumido", que passa pela candidatura à presidência da câmara de Oliveira de Azeméis. "Sou candidata a uma câmara, é um acto voluntário meu. Se estaria ou não numa qualquer lista de deputados não sei. Fiquei a saber que não poderei estar", refere a parlamentar da maioria. Para acrescentar uma imagem que traduz discordância com o processo: "Nunca vi um árbitro apitar um jogo e, a meio, reunir os que estão em campo para dizer que as regras do jogo mudaram."
Também Leonor Coutinho, deputada e candidata a Cascais, diz discordar da decisão de Sócrates, tomada na noite de sexta-feira numa reunião com as federações distritais do PS. Para a parlamentar, a decisão agora anunciada deveria ter sido tomada noutras circunstâncias e noutro tempo - "não depois de [o partido] ter pedido a muitos deputados para concorrerem a câmaras, em alguns casos para desafios muito difíceis" .
Já nomes como Jovita Ladeira ou David Martins, também deputados e candidatos autárquicos, manifestaram-se favoráveis à medida.
A decisão de interditar duplas candidaturas causou estranheza entre os socialistas, até por surgir depois das eleições europeias, a que concorreram Elisa Ferreira e Ana Gomes, também candidatas à câmara do Porto e de Sintra. Ontem, em declarações à TSF, Ana Gomes considerou a proibição de candidaturas duplas "razoável" . "Depois da especulação perfeitamente demagógica que foi feita a propósito da minha candidatura e da deputada Elisa Ferreira às eleições europeias e às câmaras, acho que é uma decisão razoável por parte do partido", afirmou a eurodeputada.
Travar uma frente de ataque dos sociais-democratas na corrida às duas eleições que se aproximam terá sido precisamente o objectivo da decisão do secretário-geral do PS - que surge, no entanto, ao arrepio do que era uma convicção generalizada entre os socialistas, de que não haveria limitações a uma candidatura simultânea.
«DN»

Sem comentários:

Enviar um comentário